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2017-03-23 às 11h31

Desenvolvimento assente na qualificação e inovação precisa de fortes serviços às empresas

Primeiro-Ministro António Costa na abertura da Convenção Nacional dos Serviços, Lisboa, 23 março 2017
Convenção Nacional dos Serviços

«Se queremos um modelo de desenvolvimento assente na qualificação e na inovação, precisamos de um País cada vez mais forte nos serviços, designadamente, nos serviços prestados às empresas», afirmou o Primeiro-Ministro, António Costa.

Estas declarações foram feitas na Convenção Nacional dos Serviços, dedicada ao tema «Os serviços como motor da presença de Portugal na globalização», em Lisboa.

«Nesta estratégia, as cidades têm um papel da maior importância, porque sempre foram um polo de atração de pessoas e serviços», acrescentou o Primeiro-Ministro, sublinhando que, «hoje, as cidades portuguesas atrativas vão muito para além de Lisboa e Porto».

António Costa disse: «O País tem atualmente uma rede de cidades intermédias um pouco por todo o território, litoral ou interior, que têm demonstrado capacidade de atração e fixação de centros de prestação de serviços de valor acrescentado ao setor empresarial», de que são exemplo o Fundão, a Guarda ou Covilhã.

«Esta nova visão geográfica é de capital importância para a nossa inserção no quadro da globalização e para um desenvolvimento mais harmonioso, daí o Programa Nacional de Reformas se estruturar em torno de seis pilares, que têm de ser vistos de forma integrada», referiu o Primeiro-Ministro.

Programa Nacional de Reformas

Em primeiro lugar, «a qualificação das novas gerações ou das pessoas que atualmente já estão no mercado de trabalho, através da aprendizagem ao longo da vida, é essencial para termos serviços de cada vez maior qualidade, que suportem o modelo de desenvolvimento assente na inovação», afirmou António Costa.

Em segundo lugar, a inovação, «tendo de ser vista de uma forma diversificada, na Indústria 4.0 ou na capacidade da incorporação do conhecimento em produtos tradicionais como o azeite ou o vinho. Aqui, os serviços poderão servir para melhorar o processo produtivo ou a qualidade dos produtos», disse o Primeiro-Ministro.

Em terceiro lugar, a valorização do território, «que é um elemento de capital importância, quer das infraestruturas» que são «essenciais como interfaces da nossa internacionalização, seja na ligação à fachada atlântica ou na capacidade aeroportuária que sustenta o notável crescimento do turismo, seja nas ligações ao interland ibérico, para que possamos aceder em definitivo a um mercado de 60 milhões de pessoas, que é a escala mínima que temos de conseguir trabalhar», referiu António Costa.

«A valorização das nossas cidades através de um forte investimento na reabilitação, é também muito importante, não apenas para a construção, mas também porque fixa empresas, atrai talentos, desenvolve turismo e traz eficiência energética», sublinhou ainda.

Em quarto lugar, a modernização do Estado, «fundamental para reduzir custos de contexto e facilitar o acesso das empresas aos mercados. Assim teremos melhores condições de atração e fixação de talentos e para o desenvolvimento dos serviços», afirmou o Primeiro-Ministro.

Em quinto lugar, a capitalização das empresas, «uma questão-chave, devido à baixa intensidade do capital no índice de produtividade», realçou António Costa, afirmando que «as empresas portuguesas são muito dependentes do financiamento bancário, tendo pouca autonomia financeira».

«Aquilo que mais distingue a capacidade de crescimento da Espanha em comparação com Portugal, é o país ter saneado primeiro o seu sistema financeiro aquando do seu processo de ajustamento, enquanto Portugal o adiou para o final da saída limpa», disse o Primeiro-Ministro.

António Costa referiu que «é ainda preciso desenvolver mecanismos alternativos de financiamento às PME e criar incentivos que reforcem os seus capitais próprios. O programa Capitalizar tem este objetivo e entrará agora num segundo momento, para reestruturar empresas através de mecanismos alternativos de financiamento aos bancos».

«Só assim daremos resposta sustentável ao sexto pilar, o da erradicação da pobreza e redução das desigualdades, ele próprio uma condição de desenvolvimento do País».

«A rutura do modelo dos baixos salários atrairá emprego qualificado, que por sua vez suportará um setor de serviços dinâmico, que inserirá Portugal em cadeias de valor internacionais através da prestação de serviços de qualidade, de que as empresas precisem e que coloquem o País como seu destino», afirmou.

O Primeiro-Ministro realçou a importância de não adiar as reformas estruturais de que Portugal precisa: «Temos de ser persistentes na cumulação de políticas que executem esta estratégia» e «o médio prazo é prioritário. Temos de ser capazes de seguir uma estratégia que permita a Portugal resolver os seus problemas estruturais no horizonte de uma década. E temos de ter esta ambição porque todos os dias se abrem novas oportunidades».

Unidade de missão para atração de empresas

Referindo-se à capacidade de transformar problemas em oportunidades, António Costa exemplificou com o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia).

Sobre as vantagens que Portugal tem relativamente ao Reino Unido, o Primeiro-Ministro realçou «a proximidade geográfica, a relativa facilidade linguística e a partilha do mesmo fuso horário».

Estas condições dão a Portugal «a capacidade para atrair muitos dos serviços que têm sentido permanecer num país europeu. Quando visitei a China ou a Índia, pude constatar que ambos os países têm muitas empresas habituadas a estar na União Europeia, que agora procuram alternativas ao Reino Unido», acrescentou.

«É por isso iremos criar uma unidade de missão com o objetivo de criar um quadro específico para a localização em Portugal de empresas que desejem permanecer na União Europeia. Esta é também uma forma de contribuirmos para a globalização e para o reforço da base económica da própria União Europeia», disse António Costa.

O Primeiro-Ministro sublinhou ainda que Portugal «não está na União Europeia com complexos de ser um país do Sul, mas com um enorme orgulho em ser um país atlântico, aberto ao mundo e ao diálogo das culturas, tendo capacidade de acrescentar valor à atividade económica» a partir destas características.

Centralidade dos serviços

«Só poderemos voltar a ser competitivos com base em dois fatores fundamentais, a qualificação e a inovação», sublinhou António Costa, acrescentando: «O capital humano é um elemento chave na competitividade, temos aqui oportunidade de desenvolver uma nova área de especialização que podemos oferecer às empresas».

E lembrou: «Temos visto, nos últimos anos, a instalação em Portugal de uma série de centros que operam na área dos serviços, trazendo um valor acrescentado muito importante», de que foi recentemente exemplo a inauguração do novo centro da Euronext no Porto.

«Os serviços são, precisamente, o setor que pode permitir fazer a diferença. Se olharmos para os setores da nossa economia que melhor se adaptaram ao novo quadro competitivo – calçado, têxtil e agroalimentar – aquilo que fez a diferença foi a incorporação de serviços nos seus produtos ou processos de produção, o que dá uma enorme centralidade aos serviços no novo modelo de desenvolvimento do País», disse ainda o Primeiro-Ministro.

António Costa realçou que «os serviços são essenciais ao desenvolvimento de todos os outros setores da economia, tendo hoje um peso de 68% no PIB na nossa economia, com 44% dos postos de trabalho a pertencerem a este setor».

«Se conseguirmos ter uma boa inserção nos mercados globais, resolvemos os problemas estruturais que temos desde o início do século, rompendo o ciclo recessivo económico e tornando a uma trajetória de convergência com a União Europeia», acrescentou.

Futuro do projeto europeu

Distinguindo dois ciclos económicos desde que o País aderiu à atual União Europeia, António Costa referiu «um primeiro de inequívoco sucesso, em que Portugal convergiu com a União Europeia, até 2000. E um segundo, que dura há 15 anos, em que o País alternou ciclos de crescimento anémicos com ciclos de recessão».

«A grande questão estratégica que se coloca ao País, a que o Programa Nacional de Reformas visa dar resposta, é como tornar a um crescimento sustentável e à convergência com a União Europeia», afirmou o Primeiro-Ministro.

António Costa realçou que Portugal «tem de assumir este desafio» e «isso implica um debate no quadro europeu, cuja altura pode não ser melhor, mas essa discussão terá de ser feita».

«Houve já um importante sinal dado pela Comissão Europeia, com a apresentação do Livro Branco, donde constam cinco cenários para o futuro do projeto europeu, com o compromisso de apresentar, até junho, um conjunto de propostas setoriais que permitam aos Estados-membros fazer opções claras quanto ao futuro da União Europeia», acrescentou o Primeiro-Ministro.

«Mas esse debate ao nível da União Europeia não nos isenta de fazer o debate interno. Aqui, a questão do modelo de desenvolvimento é central, pois já não é mais possível ser competitivo neste mundo com uma estratégia assente em baixos salários ou com o foco apenas nos custos», disse António Costa.