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Histórico XXI Governo - República Portuguesa Voltar para Governo em funções

Intervenções

2019-10-18 às 20h42

Intervenção do Ministro dos Negócios Estrangeiros no Colloque International «Commémoration du Centenaire de l’Enseignement du Portugais dans l’Université Française»

«1.O português, uma língua partilhada

As mais recentes projeções demográficas das Nações Unidas, publicadas em meados de 2019, confirmam a previsão de um aumento considerável da população residente nos países de língua portuguesa, nas próximas décadas. Por volta de 2050, serão cerca de 390 milhões de pessoas; no fim do século, talvez ultrapassem os 510 milhões. Os três maiores países serão, em 2050, o Brasil, com 228 milhões, Angola (77 milhões) e Moçambique (65), seguidos a larguíssima distância por Portugal, com nove milhões. Em 2100, Angola poderá ter tomado a dianteira, com 188 milhões de habitantes, à frente do Brasil (180 milhões) e de Moçambique (123 milhões). Portugal contará com apenas uns sete milhões de pessoas e terá a Guiné-Bissau (seis milhões) no seu encalço. O Brasil, que vale hoje mais de três quartos da população total dos países de língua portuguesa, valerá daqui a três décadas menos de três quintos e no fim do século pouco mais de um terço.

Estes dados e estimativas são conhecidos, mas convém sempre tê-los em conta quando consideramos questões relativas à língua e cultura portuguesa. A nossa língua é nossa, dos portugueses, porque é a língua materna, não já de todos, mas da vasta maioria dos nacionais portugueses. É uma das nossas línguas oficiais, a língua da comunicação quotidiana, da socialização, do sistema educativo e da administração pública, da economia, do trabalho e do lazer; e é a língua da criação literária e artística que a toma por veículo, inspiração e matéria. Por isso, pode ser descrita, como fez Fernando Pessoa, como uma pátria, a pátria que conta, uma pátria linguística e cultural que valeria simbolicamente mais do que a nação política e soberana. Uma pátria, isto é, um chão, um solo, um alicerce fundo que, projetando-se como cultura e criação, nos projeta a nós bem além da nação, integrando a nação num horizonte cultural mais vasto: eis uma bela indicação para os tempos atuais de nacionalismo exacerbado e de guerras de identidade cultural, que certamente nos ajuda a contrariá-los e ultrapassá-los.»

Leia a intervenção na íntegra