«1.O português, uma língua partilhada
As mais recentes projeções demográficas das Nações Unidas, publicadas em meados de 2019, confirmam a previsão de um aumento considerável da população residente nos países de língua portuguesa, nas próximas décadas. Por volta de 2050, serão cerca de 390 milhões de pessoas; no fim do século, talvez ultrapassem os 510 milhões. Os três maiores países serão, em 2050, o Brasil, com 228 milhões, Angola (77 milhões) e Moçambique (65), seguidos a larguíssima distância por Portugal, com nove milhões. Em 2100, Angola poderá ter tomado a dianteira, com 188 milhões de habitantes, à frente do Brasil (180 milhões) e de Moçambique (123 milhões). Portugal contará com apenas uns sete milhões de pessoas e terá a Guiné-Bissau (seis milhões) no seu encalço. O Brasil, que vale hoje mais de três quartos da população total dos países de língua portuguesa, valerá daqui a três décadas menos de três quintos e no fim do século pouco mais de um terço.
Estes dados e estimativas são conhecidos, mas convém sempre tê-los em conta quando consideramos questões relativas à língua e cultura portuguesa. A nossa língua é nossa, dos portugueses, porque é a língua materna, não já de todos, mas da vasta maioria dos nacionais portugueses. É uma das nossas línguas oficiais, a língua da comunicação quotidiana, da socialização, do sistema educativo e da administração pública, da economia, do trabalho e do lazer; e é a língua da criação literária e artística que a toma por veículo, inspiração e matéria. Por isso, pode ser descrita, como fez Fernando Pessoa, como uma pátria, a pátria que conta, uma pátria linguística e cultural que valeria simbolicamente mais do que a nação política e soberana. Uma pátria, isto é, um chão, um solo, um alicerce fundo que, projetando-se como cultura e criação, nos projeta a nós bem além da nação, integrando a nação num horizonte cultural mais vasto: eis uma bela indicação para os tempos atuais de nacionalismo exacerbado e de guerras de identidade cultural, que certamente nos ajuda a contrariá-los e ultrapassá-los.»
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