Em Portugal há 30 mil pessoas surdas que comunicam através da LGP, mas estima-se que a comunidade falante seja muito superior
Está inscrita desde 1997 na Constituição da República, que determina que é tarefa do Estado "proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades". Hoje assinala-se o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa (LGP), uma língua de expressão visual, feita através de gestos que transmitem todos os significados equivalentes à língua portuguesa. Em Portugal há 30 mil pessoas surdas que comunicam através da LGP, mas estima-se que a comunidade gestuante seja substancialmente superior.
A língua gestual não é universal, cada país possui o seu próprio vocabulário, gramática e estrutura própria, além de sotaques próprios e regionalismos.
A LGP surgiu no século XIX, com base na experiência de Per Aron Borg, que na Suécia trabalhava com surdos. A pedido do Rei D. João VI, deu assessoria técnica nesta área em Portugal e colaborou na criação, em 1823, da primeira escola para surdos no país. Por essa razão, embora o vocabulário da língua gestual portuguesa e da sueca sejam diferentes, o alfabeto das duas línguas revela a sua origem comum.
Sofia Figueiredo e Luís Oriola são técnicos superiores no Instituto Nacional para a Reabilitação, na tutela do Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social. Tornaram-se rostos conhecidos nos lares portugueses sobretudo durante a pandemia de covid-19, uma época que trouxe particulares desafios, dada a necessidade de comunicar rápida e eficazmente informação importante sobre saúde e segurança pública.
A LGP foi, por isso, uma ferramenta crucial para garantir que a informação chegava a todas as pessoas. Com desafios particulares, como a introdução de novas palavras - como coronavirus - na língua gestual.
Se muito caminho foi já percorrido no reconhecimento da LGP, muito há ainda por fazer. "Os maiores desafios são o desconhecimento e [as pessoas] não entenderem verdadeiramente a importância que tem Língua Gestual Portuguesa e que tem um intérprete da LGP", diz Sofia Figueiredo, sublinhando que as pessoas surdas precisam de ter acesso às mensagens não em situações esporádicas, mas no seu dia a dia.
Luís Oriola partilha a mesma ideia: "Há um conjunto de serviços e de valências que se foram implementando para proporcionar melhor e mais acessibilidade às pessoas surdas, mas ainda há muitos contextos em que essa acessibilidade não existe, é preciso continuar este trabalho".