Promover a Coesão: do Interior para Lisboa e para o mundo

A área governativa da Coesão Territorial escolheu o dia 30 de cada mês para visitar e divulgar bons projetos de coesão, que tenham ou estejam a transformar a economia local ou regional, a criar novos postos de trabalho, a desenvolver novas atividades ou a recuperar outras. Esta iniciativa é, antes mais, uma homenagem aos territórios e a pessoas que não desistem e que continuam a fazer dos seus sonhos o motor da economia nacional. 

Em Manteigas, município com longa tradição nos lanifícios, a Ministra da Coesão Territorial visitou a Burel Factory, onde Isabel Costa e João Tomás – dois empreendedores naturais de Lisboa – estão há mais de uma década a recuperar uma atividade económica de extrema importância para a região.

O burel, matéria-prima utilizada desde o século XII para a confeção de hábitos dos monges e, mais tarde, para as capas de pastores e trabalhadores agrícolas, deveu a sua popularidade ao isolamento térmico, facilidade de fabrico e baixo preço. Na segunda metade do século XX, porém, o êxodo rural e o abandono da pastorícia, quase levou ao desaparecimento desta arte. Depois da crise financeira mundial em 2008, os lanifícios da zona da Serra da Estrela foram severamente afetados, lançando uma parte da população no desemprego.

 

Foi neste contexto que Isabel e João encontraram a centenária fábrica da Lanifícios Império, já em processo de insolvência. 

Durante a vista, a Ministra Ana Abrunhosa, acompanhada da Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, da Presidente da CCDR Centro, Isabel Damasceno e o Presidente da Câmara Municipal de Manteigas, Flávio Massano, puderam ver como depois desta aquisição foi possível recuperar as máquinas do século XIX, reintroduzir no mercado padrões antigos de confeção, inovar através da coloração do burel, e iniciar o processo de transferência de conhecimento dessa arte dos mais velhos para os mais novos. 

Os donos da fábrica puderam explicar como, pouco depois, conseguiram levar o Interior até Lisboa e Porto, onde quatro lojas vendem – para dentro e fora de portas - peças de design inovador. Atualmente, o tecido de lã mais antigo de Portugal já está no segmento de moda e acessórios, em soluções de arquitetura e revestimentos, e conseguiu certificação como solução acústica, depois de três anos de profunda investigação destinada a encontrar aplicações inovadoras.

Isabel e João guiaram ainda a visita pelas duas unidades hoteleiras que detêm na Serra da Estrela, um antigo sanatório em pleno Parque Natural, concebido originalmente pelo médico Sousa Martins, e hoje convertido na Casa das Penhas Douradas, um hotel de charme situado a 1500 metros de altitude; e a reinventada Pousada de São Lourenço, hoje Casa de São Lourenço, único hotel de montanha de 5 estrelas em Portugal. 

Pela obra feita neste município, Isabel e João consideram-se «recuperadores de património», prometendo não ficar por aqui. No ano passado já adquiriram uma das fábricas mais emblemáticas de transformação de lã da Covilhã, também em processo de insolvência, e tencionam manter e continuar uma das principais indústrias daquela cidade. Com uma rígida política de desperdício-zero e boas práticas ambientais, estes são também projetos sustentáveis.

Os projetos visitados, que vão da indústria ao turismo, recuperaram o património da Serra da Estrela, mas valorizaram-no com ciência. Os produtos que agora chegam ao mercado aliam o melhor das tradições portuguesas ao design contemporâneo, promovendo esta região do Interior, gerando emprego e atraindo mão de obra qualificada.

Com uma faturação superior a 5 milhões de euros em 2021, praticamente 1/3 da sua produção destinada à exportação e mais de 134 trabalhadores, o negócio de Isabel e do João mostra estar em franco crescimento e comprova a importância dos fundos europeus no apoio a projetos de desenvolvimento para os nossos territórios.