Caras senhoras,
Caros senhores,
Custa-me entender por que motivo continuamos a ter eventos e debates a justificar a presença da arte e da Cultura nos sistemas educativos. Não o fazemos para a matemática, para a geografia ou para a física, mas há quem continue a sentir a necessidade de justificar o ensino da arte e a promoção da sensibilidade estética e artística.
Sou linguista e sei que não há muito que nos faça unicamente humanos. Mas a linguagem e a arte caracterizam-nos como espécie. Quando acreditamos que a educação promove o desenvolvimento humano, deixar a arte de fora é ignorar uma das principais dimensões da nossa humanidade e, consequentemente, do nosso humanismo.
Os sistemas autoritários e os ditadores têm sempre medo da palavra e da arte. Cancelam, perseguem, proíbem, censuram, em primeiro lugar os que usam a palavra e a arte. Têm medo do poder da palavra e perseguem jornalistas e escritores. Têm medo da força da arte e do seu potencial para nos acordar e fazer pensar.
Só por isto, porque a arte está intimamente ligada com a liberdade, não precisamos de justificar mais a sua presença na educação.
Mas, se o quisermos mesmo fazer, basta pensar que, hoje, todos discutimos a necessidade de desenvolver competências sociais e emocionais. Essa é uma das conclusões da Cimeira da Transformação da Educação, convocada pelas Nações Unidas.
A arte tem esse papel nas nossas vidas. Começamos eventos com momentos musicais, exploramos as nossas sensações e emoções perante um filme, no teatro ou na ópera, que nos fazem rir e chorar, que nos param no tempo quando nos sentamos a admirar um quadro. Sem arte, não educamos com emoção nem desenvolvemos esta capacidade unicamente humana de nos deslumbrarmos.
Esta conferência aprovará o Quadro para o Desenvolvimento da Educação Cultural e Artística e eu gostaria de afirmar o sentido de urgência e emergência da promoção da sensibilidade estética e artística na educação.
É urgente porque potencia a capacidade crítica e analítica, porque estimula a criatividade, porque fomenta a disponibilidade para olhar e admirar. Por vezes, esquecemo-nos de que os maiores avanços e descobertas da ciência têm por trás um ser humano que foi capaz de olhar para algo que não entendia e ficar maravilhado com a necessidade de criar uma resposta. Não se limitou a reproduzir o que já tinha sido dito sobre o assunto. Criou. Pensou em alternativas e isso é-nos dado quando desenvolvemos sensibilidade artística. Não nos limitamos a sentir-nos predestinados, pensamos no que pode ser diferente e novo.
Leia a intervenção na íntegra no ficheiro em anexo.