1. Cogestão para a Pesca do Polvo no Algarve reúne apoio de 75% dos titulares de licenças de pesca
para as artes dirigidas ao polvo na região do Algarve.
2. Depois do pioneiro Comité de Cogestão do Percebe, Portugal cria agora o segundo sistema de
gestão participada de um recurso piscatório.
3. Polvo gerou mais de 48 milhões de euros nas lotas do continente em 2023.
Foi publicada a Portaria n.º 84/2024/1, que cria o Comité de Cogestão da pesca do Polvo (
Octopus
vulgaris) no Algarve.
O comité de cogestão, cujo processo formal de criação foi iniciado em outubro de 2023, visa gerir
e monitorizar a pesca do polvo na área compreendida pela faixa do litoral delimitada pela
Ribeira de Odeceixe (Oeste) e a Foz do Rio Guadiana (Este), correspondente a toda a extensão de
costa do Algarve.
Criado depois de 75% dos pescadores com licença para estas artes na região terem concordado
com a implementação deste procedimento de gestão, mais de 600 num total de 807, o Comité
surge como consequência dos resultados do projeto ParticiPESCA. Os trabalhos envolveram 15
Associações de Pescadores e Organizações de Produtores, representantes de pescadores de toda
a região, além de outras entidades ligadas à pescaria, como a administração, comunidade
científica, organizações não-governamentais e sociedade civil.
Durante mais de dois anos, o projeto liderado pela Natureza Portugal e World Wildlife Found
(ANP|WWF) contou com a parceria do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, do Centro de
Ciências do Mar (CCMAR) e do Environmental Defense Fund (EDF), tendo sido apoiado no âmbito
do Programa Operacional MAR 2020 em 230 mil euros e cofinanciado pela Fundação Oceano
Azul.
Reforçando a importância da cogestão em Portugal, a Secretária de Estado das Pescas, Teresa
Coelho, destacou que "o nosso país tem um compromisso inabalável com a gestão sustentável
da pesca. E, por isso mesmo, procuramos continuamente desenvolver, junto do setor, as
melhores estratégias e as melhores ferramentas para garantir a exploração responsável dos
nossos recursos. Neste caso, e por iniciativa do setor, junto com organizações não
governamentais, administração e comunidade científica, surge esta estratégia partilhada de
gestão de um importante recurso para a região do Algarve. Este é mais um exemplo positivo da
preocupação dos profissionais da pesca com a sustentabilidade do ecossistema marinho, com o
futuro do setor e, também, mais um exemplo da sua capacidade e proatividade em construir
soluções".
Em 2023, a pesca do polvo gerou mais de 48 milhões de euros nas lotas do continente,
destacando-se as lotas do Algarve, onde se comercializou um volume superior a 2 mil toneladas
deste molusco.
"Este é um passo ímpar para a sustentabilidade da pescaria e salvaguarda das comunidades
costeiras na região. É mesmo impressionante confirmar que esta foi uma vontade declarada por
uma larga maioria de pescadores, cuja participação, aliada ao conhecimento científico,
contribuirá, sem dúvida, para uma gestão mais eficaz e sustentável das pescarias", explica Rita
Sá, Coordenadora de Oceanos e Pescas da ANP|WWF. "Com a criação do comité de cogestão, e em
alternativa à abordagem tradicional «top-down», todos estaremos de braços dados na
construção dos processos de regulamentação, monitorização e fiscalização da pesca do polvo
no Algarve. Como temos referido, o futuro da pesca do polvo no Algarve passa por aqui".
A pesca deste molusco torna-se a segunda no país com este sistema de gestão, seguindo, nesta
região, os passos traçados, de forma pioneira, pela Cogestão da Apanha de Percebe na Reserva
Natural das Berlengas, cujo comité foi criado e instalado, oficialmente, a 28 de março de 2022.