Na sequência do anúncio do Primeiro-Ministro sobre o lançamento do
primeiro Modelo de Linguagem em Grande Escala de língua portuguesa de Portugal (LLM Português), no passado dia 11 de novembro de 2024, realizou-se hoje uma reunião interministerial entre os dois Ministros que coordenam a iniciativa – a Ministra da Juventude e Modernização e o Ministro da Educação, Ciência e Inovação.
Os LLM são modelos que utilizam Inteligência Artificial (IA) para processar, compreender e gerar texto em linguagem natural a partir de grandes quantidades de dados em diversos formatos (e.g. texto, imagem e vídeo). Estes modelos são componentes de vários tipos de sistemas, tais como sistemas de diálogo e chatbots, sistemas de pesquisa, sistemas automáticos de resposta a perguntas, entre outros.
Existem no mercado inúmeros LLM estrangeiros, que na sua grande maioria são modelos desenvolvidos por empresas privadas e otimizados para processar e gerar texto em língua inglesa, sendo que (i) apresentam um desempenho menos positivo no processamento e geração de texto noutras línguas e (ii) quando utilizados com dados sensíveis, reduzem a autonomia e soberania de dados, forçando que quem os utiliza tenha de partilhar os dados com estes fabricantes.
Recorde-se que, nos últimos anos, têm sido frequentes as iniciativas em vários países de desenvolver LLM próprios, proficientes nas línguas dos países envolvidos, nomeadamente o ALIA, que fala castelhano, catalão, galego e basco, e do Viking 7B, que fala dinamarquês, finlandês, norueguês, islandês e sueco, entre outros exemplos.
Neste sentido, é uma prioridade do Governo português o desenvolvimento e lançamento do primeiro LLM de língua portuguesa de Portugal, o AMÁLIA, Assistente Multimodal Automático de Linguagem com Inteligência Artificial. Esta iniciativa de desenvolvimento do LLM Português é a primeira divulgada no âmbito da Agenda Nacional de Inteligência Artificial que será apresentada de forma consolidada no 1.º trimestre de 2025.
O LLM Português AMÁLIA permitirá (i) contribuir para a preservação da soberania nacional, (ii) distinguir as diferentes variantes da língua portuguesa, (iii) reconhecer elementos da cultura e história de Portugal; (iv) permitir o controlo dos dados utilizados para a sua aprendizagem, e (v) assegurar condições de armazenamento e utilização de dados sensíveis, como é o caso da maioria dos dados da Administração Pública.
Esta é uma iniciativa do Governo português que será liderada conjuntamente pela Ministra da Juventude e Modernização, que tem competência delegada do Primeiro-Ministro relativamente à Inteligência Artificial (segundo o Despacho n.º 8556/2024, de 31 de julho), e pelo Ministro da Educação, Ciência e Inovação.
Assim, a execução operacional desta iniciativa será liderada (i) pela Agência para a Modernização Administrativa (AMA, I.P.), que será responsável pela gestão da iniciativa e por assegurar as condições necessárias para a futura disseminação do LLM por todos os seus potenciais utilizadores públicos e privados, e (ii) pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT, I.P.), que será responsável por coordenar, junto dos centros de investigação, o treino e desenvolvimento do LLM, assegurar a infraestrutura necessária para o treino e alojamento do LLM, e pelo tratamento e curadoria dos dados que serão utilizados para este treino e desenvolvimento. Será com as infraestruturas e recursos humanos existentes nestas entidades que será possível executar uma iniciativa com objetivos e calendário ambiciosos.
O treino e desenvolvimento do AMÁLIA será executado por um consórcio liderado pelos centros de investigação Nova LINCS da Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Telecomunicações e Instituto Superior Técnico, e integrará outros centros de investigação nacionais com reconhecido mérito no âmbito da Inteligência Artificial.
Assim, será possível aproveitar sinergias de projetos e investimentos já realizados, nomeadamente (i) os projetos de desenvolvimento do EuroLLM no Instituto de Telecomunicações e Instituto Superior Técnico, e do GlórIA e v-GlórIA no Nova LINCS, que utilizam a infraestrutura europeia da entidade europeia de computação de alta-performance EuroHPC, e que no caso do GlórIA e v-GlórIA já estão treinados em português de Portugal, (ii) o projeto de curadoria dos dados do Arquivo.pt, que está a ser realizado pela FCT, I.P., e o (iii) o investimento realizado pelo Governo em infraestrutura de computação de alta-performance do Deucalion e Mare Nostrum 5.
Será também formado um Comité de Acompanhamento Especializado, constituído por peritos em Inteligência Artificial, como é disso exemplo o Center for Responsible AI, o qual será presidido por uma personalidade de reconhecido mérito na área. Este grupo será responsável por assegurar as melhores práticas de desenvolvimento de Modelos de Linguagem de Grande Escala, o cumprimento dos princípios éticos e de segurança e aconselhar sobre o potencial de aplicações do modelo nos diversos setores de atividade.
Esta iniciativa tem previsto um investimento de 5,5 milhões de euros e um calendário de trabalho e desenvolvimento de 18 meses, do qual resultará uma primeira versão multimodal do AMÁLIA. A este valor acresce o vasto investimento já realizado em infraestrutura de computação, projetos de desenvolvimento e recursos humanos especializados que contribuirão em grande medida para o desenvolvimento do LLM.
O financiamento necessário à concretização do LLM Português é assegurado no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e será desenvolvido inteiramente por entidades públicas. O financiamento do projeto estará exclusivamente destinado às entidades públicas envolvidas no desenvolvimento do AMÁLIA.
Ao longo dos 18 meses, serão disponibilizadas diversas versões do AMÁLIA à medida que forem desenvolvidas novas funcionalidades:
- No final do 1.º trimestre de 2025, será disponibilizado um AMÁLIA (versão beta);
- No final do 3.º trimestre de 2025, será disponibilizado um AMÁLIA (versão base);
- No final do 2.º trimestre de 2026, será disponibilizado um AMÁLIA (versão multimodal)
Numa fase inicial, o AMÁLIA será criado através da conjugação dos esforços realizados no desenvolvimento do EuroLLM, do GlórIA e do v-Glória, será capaz de diferenciar as variantes da língua portuguesa e será treinado com dados do Arquivo.pt previamente curados. Esta versão beta do AMÁLIA conseguirá receber e interpretar instruções em formato de texto e responder com base no conhecimento adquirido, também em texto escrito em português de Portugal.
Até ao final do 3.º trimestre de 2025, serão curados novos dados sobre a língua, a cultura e história de Portugal. Estes dados serão provenientes de fontes como o Arquivo.pt, e serão utilizados para treinar o AMÁLIA na sua versão base. Só nesta versão será possível gerar respostas fiáveis e precisas sobre estas temáticas, bem como responder a questões com total segurança e sem risco para o utilizador. Nesta altura, o AMÁLIA já poderá ser integrado noutras aplicações externas e utilizar dados dessas fontes para gerar respostas de texto.
Todas as versões desenvolvidas serão disponibilizadas de forma gratuita e em open source, para que seja utilizado por todos, incluindo Academia, centros de investigação, entidades públicas, empresas e cidadãos. Para além das versões do LLM, todos os dados que suportam o treino serão disponibilizados em dados abertos, criando assim uma infraestrutura nacional de Inteligência Artificial que potencia o ecossistema de inovação da Inteligência Artificial em Portugal.
O LLM Português poderá ser aplicado a diversos domínios de atividade, sendo necessário afiná-lo e treiná-lo com dados específicos dos sectores de atuação, como Educação, Saúde, Serviços Públicos, entre outros.
No final dos 18 meses do primeiro projeto de desenvolvimento do LLM, o AMÁLIA versão multimodal já será capaz de interpretar diversos formatos de dados (e.g. texto, imagem e vídeo).
Esta versão final do LLM será diferenciadora na interpretação e geração de texto de língua portuguesa, no conhecimento que tem da literatura, cultura e história de Portugal. No entanto, o objetivo deste LLM não é de responder a perguntas genéricas em que o foco é a realização de raciocínios ou cálculos complexos, havendo outros LLM no mercado com bom desempenho nessas tarefas.
Esta iniciativa vem reforçar a intenção do Governo de colocar a tecnologia e o digital ao serviço das empresas, do Estado e das pessoas. O Governo quer posicionar o Estado como um acelerador e impulsionador do ecossistema de investigação e inovação no âmbito da Inteligência Artificial, e criar bases fundacionais importantes para o desenvolvimento da tecnologia através de processos criativos e transformadores em Portugal.
Assim, o AMÁLIA estará disponível para todos de forma aberta e gratuira, para que possam utilizá-lo para concretizar os seus projetos. Após este primeiro projeto, é lançado o repto a todos os utilizadores que partilhem as futuras evoluções do modelo e as coloquem ao serviço de todos os portugueses.
É de salientar ainda que se encontra em consulta pública desde 21 de novembro a
Estratégia Digital Nacional que integra a Agenda Nacional de Inteligência Artificial, onde está inserida esta iniciativa. Durante o mês de dezembro, será realizado o 2.º Conselho de Ministros para a Transição Digital e Modernização onde será aprovada a referida estratégia.