«Gandhi esteve sempre aberto para observar, aprender e para trocar ideias com outros em países distantes com culturas diferentes. Ainda hoje o legado de Gandhi continua a guiar os esforços para combater a discriminação, promover a tolerância religiosa, a coexistência pacífica entre comunidades e o respeito pela natureza», afirmou o Primeiro-Ministro António Costa.
O Primeiro-Ministro discursava como convidado de honra das cerimónias de comemoração do 150.º aniversário de Mahatma Gandhi, no qual estiveram presentes o Presidente da República, Ram Nath Kovind, e o Primeiro-Ministro, Narendra Modi, em Nova Deli, na Índia.
António Costa acrescentou que «a resposta para alguns dos desafios deste século XXI, sobretudo no que concerne às relações entre povos e países, pode beneficiar muito da visão de Gandhi sobre a dignidade de todo o ser humano».
Apontando os riscos do «crescimento do exclusivismo, do protecionismo e da xenofobia», afirmou que «tal como no passado, as ideias de Gandhi continuam a fornecer uma contribuição valiosa para o nosso esforço comum de combate à discriminação e de promoção da tolerância religiosa e cultural».
«Num período em que nos deparamos com o espetro de uma onda reversiva da democracia e com a ascensão de modelos políticos autoritários, o eco da voz de Gandhi pode voltar a conduzir o nosso pensamento e a nossa ação», acrescentou.
Relações Portugal-Índia
Perante duas centenas dos mais altos dirigentes do Estado indiano, o Primeiro-Ministro disse que, tal como outros participantes na cerimónia, chegou a Nova Deli como «peregrino para celebrar o legado de Gandhi», assim como «para promover as relações entre Portugal e a Índia».
«Fiquei profundamente honrado quando recebi o convite do Primeiro-Ministro Modi para ser membro do Comité Gandhi, sendo o único líder de Governo estrangeiro com esta distinção. Como sabem, pelo lado do meu pai, tenho familiares em Goa e estou profundamente orgulhoso das minhas origens indianas», referiu.
O convite para a sua participação no Comité Gandhi tem «uma profunda dimensão política», já que, em 45 anos de democracia, Portugal está a ser capaz de «utilizar o seu passado - um passado feito de séculos de contactos com outros povos - para se reinventar enquanto país aberto ao mundo».
«Com uma língua que tem 250 milhões falantes no mundo, Portugal tem uma vocação universalidade e de tolerância, especialmente em matéria de diálogo com outros continentes», disse António Costa.
Portugal está, por isso, «entre aqueles que acreditam em criar sociedades mais iguais e inclusivas, através de uma globalização descentralizada, do desenvolvimento tecnológico, do multilateralismo e da cooperação entre países e continentes».
Universalismo
O Primeiro-Ministro estabeleceu um paralelo então o universalismo português e o universalismo do Mahatma Gandhi, afirmando que «o legado de Gandhi pode ser usado como base para continuar a construir uma vibrante e moderna relação entre Portugal e a Índia».
«’Os Lusíadas’, de Luís de Camões, fazem-nos embarcar numa aventura coletiva tendo a Índia como destino, numa viagem durante a qual Portugal analisa o seu passado e olha para o seu futuro. Deixem-me dizer que estou aqui diante de vós como um produto dessa jornada», disse.
António Costa acrescentou que «a abertura ao mundo e o aprofundamento das relações entre povos em diferentes continentes continua a ser um modo de estar dos portugueses e a ser um elemento fundamental da sua identidade e prosperidade».
No campo das relações bilaterais com a Índia, «temos ainda muito para aprofundar no comércio, no investimento, no intercâmbio cultural e científico e da tecnologia. O investimento da Índia em Portugal é bem-vindo, e as empresas portuguesas estão prontas das novas oportunidades geradas pelo rápido crescimento do vasto mercado indiano», disse também.
O Primeiro-Ministro português é o primeiro dos 10 dignitários estrangeiros referidos na lista dos membros do Comité Gandhi, contando-se entre os outros, os ex-secretários-gerais da ONU, Kofi Annan e Bam Ki-moon, o Arcebispo sul-africano e prémio nobel da Paz, Desmond Tutu, o ex-Primeiro-Ministro japonês Yoshiro Mori, e o ex-Presidente dos EUA, Albert Gore.
Antes da cerimónia, o Primeiro-Ministro António Costa depôs uma coroa de flores e fez um minuto de silêncio no Memorial Mahatma Gandhi.