Intervenção do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros na sessão de homenagem «Nunca esquecer os diplomatas salvadores»

«O projeto Nunca Esquecer – Programa Nacional em Torno da Memória do Holocausto foi iniciado em 2020, por ocasião do octogésimo aniversário do salvamento de milhares de pessoas pelo então cônsul de Portugal em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Entendemos que era indispensável recordar esse ato de coragem e humanidade. Felizmente, hoje, em Portugal e no mundo, o exemplo de Aristides é bem conhecido e celebrado. Mas importa mantê-lo sempre vivo, designadamente entre as novas gerações, através das escolas, das instituições cívicas e do espaço público. E ainda tínhamos por terminar o processo de reparação que lhe era devido. 

Aristides de Sousa Mendes foi, sem dúvida, o português que mais se destacou no salvamento de pessoas vítimas da barbárie nazi; não foi, porém, o único. Outros diplomatas portugueses contribuíram para esse salvamento: hoje está bem documentada a ação de Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho em Budapeste, em 1944, e a investigação histórica vem mostrando que outros diplomatas no estrangeiro procuraram intervir em favor, designadamente, de judeus perseguidos, por vezes com algum sucesso. 

E não foram só diplomatas os que o fizeram. O padre Joaquim Carreira, então reitor do Colégio Pontifício Português em Roma, escondeu e alimentou, entre 1942 e 1943, dezenas de perseguidos, na maioria judeus ou antifascistas. E talvez o operário imigrado José Brito Mendes e sua mulher Marie-Louise que em 1942, nos arredores de Paris, acolheram e salvaram a filha dos vizinhos, judeus polacos, que haviam sido deportados, arriscando a sua própria deportação, não sejam o único caso de ações de salvamento empreendidas por pessoas humildes e comuns, movidas apenas por compaixão, firmeza e coragem.»