A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta profundamente a morte do fotógrafo, pintor e designer Fernando Lemos (1926-2019), artista multidisciplinar, com uma linguagem poética e multifacetada que marcou o panorama artístico português e brasileiro na segunda metade do século XX e início do século XXI.
Natural de Lisboa, estudou na Escola António Arroio e integrou inicialmente o movimento surrealista português. Em 1952, antes do seu exílio no Brasil, por oposição à ditadura salazarista, participou numa exposição que reuniu trabalhos seus em conjunto com os artistas Marcelino Vespeira e Fernando Azevedo, na Casa Jalco. No mesmo ano dirige, com José-Augusto França, a Galeria de Março. Participa também, em 1959, na Exposição 50 Artistas Independentes da Sociedade Nacional de Belas-Artes e, em 1961, na "II Exposição de Artes Plásticas" da Fundação Calouste Gulbenkian.
Diversas vezes premiado pelo seu trabalho, venceu em 2001 o Prémio Anual de Fotografia do Centro Português de Fotografia. Foi também agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e elevado ao grau de Grande-Oficial, em 2018.
Com um percurso artístico longo e diverso nas abordagens, a sua obra nunca coube numa única definição. Dizia ser a soma de "atividades que têm vários nomes", fotógrafo, pintor, desenhista, designer, mas também escritor, poeta, pensador, num permanente desejo de experimentar linguagens, técnicas e expressões. São suas algumas das mais icónicas fotografias de artistas portugueses, muitos dos quais seus amigos, "gente de que gostava", como o próprio dizia, "gente que tinha um sentido político, de ausência. Eram caras que estavam proibidas."
Em junho deste ano, esteve em Portugal para a inauguração de uma exposição antológica no MUDE, em Lisboa, que coincidiu com o lançamento de uma antologia poética que veio celebrar as várias décadas da sua vida artística.
A Cultura portuguesa deve-lhe a experimentação na palavra, na imagem, na edição, mas igualmente na resistência à ditadura e na ousadia de não se submeter a formas, num compromisso artístico e ético inabalável.
À Família e Amigos enviam-se sentidas condolências.
Graça Fonseca
17 de dezembro