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Histórico XXII Governo - República Portuguesa Voltar para Governo em funções

Comunicados

2021-02-16 às 15h50

Ministra da Cultura lamenta morte da atriz Carmen Dolores

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta profundamente a morte da atriz Carmen Dolores (1924-2021), a voz inesquecível que trouxe poesia aos portugueses e o talento que ajudou a transformar o teatro em Portugal.
 
Natural de Lisboa, começou a carreira aos 12 anos, no teatro radiofónico no RCP, onde, um pouco mais tarde, começou também a ler poemas, tornando-se uma referência da arte de dizer poesia e um exemplo de dedicação aos livros, à literatura e à língua portuguesa. 
 
Estreou-se no cinema, sob a direção de António Lopes Ribeiro, na adaptação de "Amor de Perdição" (1943), onde surpreendeu no papel de Teresa de Albuquerque, dando início a uma carreira longa, na qual colaborou com Jorge Brum do Canto, José Leitão de Barros, António de Macedo ou José Fonseca e Costa. Com José Fonseca e Costa, aliás, deu voz e rosto a Cristina em "A Mulher do Próximo" (1988), uma personagem que desafiava as convenções estereotipadas da burguesia e que se tornou numa das interpretações centrais no percurso profissional de Carmen Dolores.
 
Atriz de muitos recursos e talentos, teve também um papel fundamental na história do teatro contemporâneo em Portugal, desde a sua estreia no Teatro da Trindade e, depois, no Teatro Nacional Dona Maria II, sob a direção de Amélia Rey Colaço, colaborando com muitas das companhias históricas. Para além de todos os papéis que interpretou, num percurso pelos palcos sempre reconhecido e premiado, destaca-se também o seu trabalho como fundadora do Teatro Moderno de Lisboa, com Rogério Paulo, Fernando Gusmão e Armando Cortez, uma instituição pioneira e marcante na história do teatro independente em Portugal.
 
Condecorada com a Medalha de Mérito Cultural, em 1991, homenageada pelo Festival de Teatro de Almada, em 2007, e agraciada com a Ordem de Mérito, em 2018, entre muitos outras distinções e prémios, Carmen Dolores pertence a uma geração de atores que transformou o teatro em Portugal, entregando-lhe um saber e uma prática assentes numa relação de compreensão pela palavra, e a importância das suas consequências. O seu percurso é marcado por exemplos onde o poder da interpretação não se extingue na relação entre o ator e o espetador, mas se prolongou numa luta constante entre a liberdade e a censura, entre a força e determinação em fazer vingar ideais e valores de defesa da dignidade humana, entre o político e a ação individual.
 
Carmen Dolores transformou o seu trabalho e o seu talento num legado único e num serviço de exceção à cultura portuguesa. Uma atriz comprometida com a arte de pensar e de agir, num processo completo, que encantou o público, mas educou também e deu a conhecer, através da sua voz única, a diversidade e a riqueza da literatura portuguesa.
 
À família e amigos enviam-se sentidas condolências.
Tags: teatro
Áreas:
Cultura