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Histórico XXII Governo - República Portuguesa Voltar para Governo em funções

Comunicados

2020-12-01 às 12h04

Ministra da Cultura lamenta a morte do professor, filósofo, escritor, crítico literário e ensaísta Eduardo Lourenço

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta profundamente a morte do professor, filósofo, escritor, crítico literário e ensaísta, Eduardo Lourenço (1923-2020) pensador maior da nossa cultura e uma das mentes mais brilhantes de Portugal.

Natural de Almeida, foi um pensador arguto e sensível como poucos e incansável combatente do caos dos dias, com uma obra que se desenha como um mapa para navegar a identidade portuguesa. 

Destacou-se também para sua intervenção cívica, sempre própria e avessa a classificações, como exemplo de autoridade mas, ao mesmo tempo, de paixão e diálogo.

Fez da leitura uma arte muito sua e através do nosso património literário interpretou Portugal, pensou a Europa e interrogou o mundo, com uma liberdade e uma originalidade que o tornam não só um dos autores centrais da literatura portuguesa, mas também um farol cuja luz ilumina os séculos de pensamento e de cultura portuguesa. A poesia portuguesa, como a compreendemos e lemos, é, em parte, uma construção de Eduardo Lourenço e da presença muito viva da sua reflexão crítica e do seu pensamento. Navegando até à essência espiritual do pensamento português, esbateu a fronteira entre filosofia e poesia e, aqui, desenhou a sua forma única de ler e observar Portugal.

Para além da sua obra e de uma vida dedicada à docência destaca-se também o seu trabalho como conselheiro cultural junto da Embaixada Portuguesa em Roma, cargo para o qual foi nomeado no mesmo ano em que venceu o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, em reconhecimento da elevação moral e intelectual de um dos mais importantes autores do século XX europeu. Foi também administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, onde ampliou a sua dedicação inabalável ao engrandecimento do nosso património cultural.

Em justo reconhecimento do seu contributo inestimável, foi galardoado com os mais importantes prémios da literatura e da cultura portuguesas, como o Prémio D. Dinis (1995), o Prémio Camões (1996), a Medalha de Mérito Cultural (2008) e o Prémio Pessoa (2011), entre muitos outros.

Um gigante da cultura europeia, Eduardo Lourenço desconstruiu a ilusão - a "saudade" - de estarmos (termos estado) no centro do mundo. Através da sua obra foi e continuará a ser, uma mente-biblioteca, um lugar onde poderemos sempre ir procurar uma chave de leitura para descodificar e compreender o que somos e porque caminhos aqui chegamos. Dos seus ensaios permanecerá o legado e o desafio de um autêntico museu da nossa cultura e identidade, como um acervo dinâmico e eternamente renovador. Se um dia todos os vestígios da nossa cultura desaparecessem, a obra de Eduardo Lourenço.

seria sempre uma oportunidade e um ponto de partida para a sua reconstrução e essa é, talvez, a maior dívida que sempre lhe teremos.

À Família e Amigos enviam-se sentidas condolências.

Graça Fonseca
Tags: literatura
Áreas:
Cultura