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Intervenções

2019-03-12 às 21h52

Intervenção da Ministra da Cultura na entrega da Medalha de Mérito Cultural a João de Melo

Estamos aqui hoje a celebrar décadas da riquíssima e expressiva produção literária de João de Melo, com especial ênfase no território da ficção de grande fôlego, mas também no conto, no ensaio, nas crónicas e na literatura de viagens.

Paralelamente à escrita, ou confluente com ela, João de Melo, enquanto professor e, muito especialmente, enquanto conselheiro cultural em Madrid, trabalhou intensamente para a divulgação da cultura portuguesa dentro e fora do nosso território.

As dezasseis edições da Mostra Portuguesa, um dos maiores eventos da cultura portuguesa para lá das nossas fronteiras, testemunham o seu serviço de exceção pela divulgação da nossa cultura em Espanha, mas são também, como os seus livros, um legado que ecoará para lá da vida – que esperamos ainda bem longa – de quem para isto tanto fez e tem continuado a fazer.

João de Melo disse que lhe era impossível imaginar o mundo sem literatura, mesmo quando parece que ela nada pode fazer para resolver ou corrigir o mundo. A esta aparente impotência da literatura, as palavras deste escritor respondiam com a esperança, o desejo de que a força emotiva de um livro seja, afinal, capaz de alterar alguma coisa.

É este um dos poderes ficção, talvez o mais mágico, o de tornar aquilo a que chamamos realidade algo que é impensável e insuportável sem as fábulas e as personagens. A realidade é menos verdadeira sem a imaginação e o sonho, sem a criatividade. Portugal seria menos imaginável sem os livros e as imensas personagens criadas por João de Melo. E seria bem menos interessante sem Nuno Miguel, sem Luís Miguel e sem Maria Amélia a emanciparem-se da sua condição de papel e tinta e a saírem da página para ocupar o seu lugar de pleno direito entre os seus, tão portugueses como qualquer um de nós.

Por tudo isto, o privilégio que hoje tenho, enquanto Ministra da Cultura, é menos o de lhe entregar esta Medalha de Mérito Cultural e, muito mais, o de lhe agradecer, em nome do Governo, dos portugueses e, também, de quem lê a nossa língua ou, através dos seus livros, conhece o nosso país e a sua história recente.
Tags: literatura